A dada altura dei por mim a pensar que relação existe entre o Fado e o Vinho. Em boa hora arranjei motivo para com a Paula Cosme Pinto, guia da Lisbon Fado Tours, aprofundar o assunto.
O cenário escolhido foi Alfama e abraçadas pelo Museu do Fado começámos por (re) descobrir a letra de Antigamente, da autoria de Martinho d’Assunção, seu trisavô:
Sob os cascos da “vinhaça”,
deitada em forma bizarra,
estava sempre uma guitarra
para servir de “negaça”.
O canjirão da “murraça”,
de tosco barro vidrado,
andava sempre colado
aos copos p’lo balcão.
E era assim nesta função
como o Fado era tratado.
A relação não podia ser mais evidente, o Fado nasceu nas tavernas e o que aí se bebia era vinho. Motivo de inspiração nas letras que contam a vida, muitas vezes difícil, enraizou-se como ritual na hora em que se canta o Fado e se proporcionam as desgarradas. Noites de um misto de melancolia, humor e excitação propiciaram um casamento sem fim à vista.
Se Numa casa portuguesa fica bem, pão e vinho sobre a mesa, o mesmo é verdade para quem vai assistir a um espectáculo de Fado profissional ou vadio. Por presença na mesa ou recriação cénica nos concertos, é tão natural quanto as guitarras.
Já Malhoa o retratava, como elemento do ambiente quando pintou Adelaide “da facada” com o seu amante.
Várias casas de Fado lisboetas o acolheram no nome, o Sr. Vinho, a Adega Machado e ao percorrermos as ruas de Alfama confirmamos que dificilmente alguém lhe ficou indiferente: há a Taberna d’EL Rey, a Adega dos Fadistas, A Parreirinha de Alfama e até a Bela – Vinhos e Petiscos é carinhosamente conhecida como a Tasca da Bela! Foi aqui que fiquei a saber taxativamente que “sem um copo de vinho e um cigarro não é Fado!”
Notas de Prova