Foi assim e sem mais demoras que Domingos Soares Franco apresentou a colheita de brancos e rosés de 2014. Digo eu que não há nada como conhecer a obra pelas palavras do seu artista e num ambiente descontraído com trocas de impressões entre bloggers, jornalistas e membros da família, foram 7 os vinhos sobre os quais pudemos tirar as nossas notas. O local escolhido foi o espaço mais recente da casa José Maria da Fonseca, o By The Wine no Chiado, que se continua a mostrar uma aposta bem sucedida no que respeita aos espaços dedicados ao vinho em Lisboa que numa terça-feira à noite não viu lugares vazios.
2014 foi um ano pautado por pouco calor e por chuvas intensas que não pouparam as colheitas dos mais desprevenidos. Não foi o caso da José Maria da Fonseca que fez a vindima antes que fosse tarde e acabou com o melhor ano que o enólogo da casa já viu para os brancos! Convém referir que esta não é uma afirmação qualquer, Domingo Soares Franco é enólogo da José Maria da Fonseca desde 1980 e como tal podem imaginar a diversidade que já lhe passou pelas mãos.
Começámos com o BSE (Branco Seco Especial) que este ano tem direito a nova roupagem e onde predomina a casta Antão Vaz, ao contrário do que acontecia em anos anteriores onde o Fernão Pires ganhava destaque a agora representa 11%. Com uma percentagem de 34% da casta Arinto a completar o blend, este BSE é muito refrescante, com uma acidez natural que equilibra o sabor da fruta. Uma boa opção para beber em tardes ou noites de conversas longas e descontraídas ou para acompanhar pratos ligeiros de saladas, peixe e marisco.
O Periquita Branco traz em 2014 uma casta que muito aprecio, o Viognier. Como sou gulosa gosto de vinhos com este carácter marcado na boca ao mesmo tempo que é acompanhado por uma untuosidade típica desta casta. E note-se que é a casta com menor percentagem neste Periquita (24%) mas faz-se notar, pelo menos na minha língua. Desde 2012 que o Periquita Branco deixou de ser elaborado com a casta Moscatel e esta versão tem 50% de Verdelho e 26% de Viosinho. Pela forma como agora se apresenta, vou arriscar testá-lo com alguns pratos de peixe mais temperados e creio que se sairá bem. Na relação qualidade/preço está perfeito!
Passámos ao Quinta de Camarate Branco Seco, vinho produzido desde 1986 e que tem vindo a conhecer algumas variações nas castas que o compõe. Em 2014 é composto por Alvarinho e Verdelho e é uma autêntica explosão aromática no nariz. Acreditem que dá vontade de ficar com o nariz no copo tanto tempo quando possível, uma viagem até ao campo através dos vossos sentidos. A Quinta de Camarate além ter 39ha de vinha plantada, tem 81ha de pasto onde vivem as ovelhas que dão origem ao queijo de Azeitão, “homenageadas” no rótulo.
É possível que já tenham visto alguns vinhos da José Maria da Fonseca com a indicação Domingos Soares Franco – Colecção Privada . Apesar de ser o enólogo responsável por todos os vinhos da casa e na verdade todos terem a sua assinatura, Domingos Soares Franco considerou que existem alguns vinhos que permitem traduzir o seu espirito criador e a paixão que deposita no seu trabalho e assim reservou-lhes um espaço na sua colecção privada. Deste leque ficámos a conhecer o Verdelho (100%), um vinho muito mineral e de boa acidez que vos permite ficar a conhecer a expressão desta casta na Península de Setúbal.
Uma novidade para mim e talvez para outros distraídos como eu, foi a forma como o Periquita Rosé se apresenta encapsulado. A rolha de cortiça não mora nesta garrafa e descansem os mais cépticos que a sua falta não altera a qualidade do vinho que está carregado de cor, de aromas a morangos e framboesas e é compotado na boca. A advertência de Domingos Soares Franco foi feita: “isto não é um subproduto”, ou seja este rosé foi pensado desde o início e feito com uva apanhada mais cedo que as restantes uvas que serviram para elaborar os tintos. Uma boa opção para os pôr-do-sol cada vez mais são convidativos, encontros com amigos ao ar livre e picnics, sem os traumas do saca-rolhas esquecido!
E estava a ver que nunca mais chegava aqui, estou “roxinha” por vos contar como este Rosé de Moscatel Roxo me apaixonou. Com lugar de destaque na Colecção Privada mostrou-se de extrema elegância, com um sabor delicado mas onde distinguimos a fruta e a sua acidez. Elaborado 100% com a casta Moscatel Roxo, não se torna apenas refrescante a solo, como um bom acompanhamento de pratos orientais e refeições ligeiras. Está na lista de eleitos dos meus Rosés para este Verão!
Como as línguas amargas por aqui não têm palco termino com o Quinta de Camarate Branco Doce, que não é um colheita tardia mas que tem 51g de açúcar por litro! Se as vossas papilas gustativas começaram a bater palmas como as minhas, importa saber que é indicado para um acompanhamento de sobremesas à base de ovos (tantas vezes difíceis de combinar) e a eleição de alguns chefes para sushi. Composto por 80% de Loureiro e 20% de Alvarinho é um vinho para se beber fresco (10º) e em quantidades moderadas dado o seu teor de doçura.
Todos os vinhos apresentados ao longo da noite têm uma indicação de consumo enquanto jovens, ou seja, agora! Podem ser saboreados no By The Wine a copo ou adquiridos no mesmo espaço em garrafa para levarem para casa, ou para o pôr-do-sol ou para o picnic….Com os termómetros a subirem a pique ficam as sugestões para se refrescarem.
Uma nota final que não posso deixar de fazer à José Maria da Fonseca de Parabéns pela forma como esta apresentação foi organizada, pela qualidade do material informativo que nos entregaram e pela disponibilidade ao longo de uma noite em que jantámos com as actuais e futuras gerações da casa, no ano em que completa o seu 181º aniversário. Pela forma como todos os presentes vivem a paixão pelo vinho e a energia que depositam em bem comunicá-lo, finalmente percebi porque usam a assinatura Família de Vinhos. Vinhos de Família.
Notas de Prova