Irina, estava aqui a escolher um vinho, não sei o que hei-de levar e lembrei-me que me podias dar uma ajuda para comprar um bom vinho para o jantar…

Porque este cenário não acontece nem uma, nem duas, nem três vezes resolvi fazer este artigo para que quando vos couber a decisão de escolha de um vinho, possam considerar algumas questões importantes. Não porque queira deixar os meus amigos sem resposta, mas porque esta é uma escolha de grande responsabilidade. Já aqui falámos em como as provas de vinho podem ser uma boa forma de ir aumentando o vosso leque de opções, mas naturalmente que não provamos todos os vinhos que se encontram à venda e há que estar prevenido quando nos preparamos para comprar algo que não conhecemos.

Se é verdade que alguns de vós gostam de arriscar e experimentar coisas novas sem que isso vos cause muita dificuldade e a compra de uma garrafa é um momento excitante quase como partir numa aventura de descoberta de novos sabores, haverá certamente quem compra sempre a mesma marca  por uma questão segurança e consistência. Para esses fica o alerta que poderão estar a deixar escapar muita da qualidade que Portugal tem para oferecer.

O que fazer quando estão por vossa conta e risco?

Comprar uma, ou mais garrafas de vinho não cumpre sempre o mesmo propósito e  há duas questões a ter em mente Qual o contexto? e Quanto quero gastar?.  As condições de serviço do vinho influenciam muito a sua degustação e por isso devem pensar se faz sentido investir 20€ numa garrafa de vinho que não vai ser servida à temperatura adequada ou em copos que não permitam saboreá-la e se para quem a vai beber é igual beber vinho ou outra coisa qualquer…

Outro aspecto importante é saber se o vinho vai acompanhar comida, e em caso afirmativo que tipo de comida, ou se é para um momento social em que serve como acolhimento ou celebração.

Não fica tudo resolvido com estas questões mas fica boa parte! A partir daqui começa a ser mais fácil pensar se faz sentido um branco, um tinto, um rosé ou um espumante. As prateleiras encontram-se habitualmente divididas por estas categorias e depois por regiões. Algo que pode tornar-se útil com o tempo é conhecerem o vosso perfil de vinhos, que castas mais gostam e as regiões onde elas encontram a melhor expressão de acordo com o que procuram. Alguns rótulos têm notas de prova e sugestões de harmonização com comida, o que nalguns casos pode ajudar, mas não se deixem limitar pelas mesmas.

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É provável que já tenham visto algumas garrafas com o selo Boa Compra. Este selo é atribuído anualmente pela publicação Revista de Vinhos, e é a selecção do jurí constituído para este efeito. Há vários outros selos de críticos internacionais (e.g. Robert Parker) ou de concursos em que os vinhos estiveram à prova e onde foram distinguidos com “medalhas”. Esta é uma forma que os produtores  encontraram para se distinguir na prateleira e chamar a vossa atenção. Os vinhos premiados e distinguidos são provados de forma cega, isto é, o júri não distingue marca A,B, C mas a qualidade do que está no copo. Atribuem-lhes uma pontuação e só no final é que os vinhos são revelados. Estes selos podem ser também uma ajuda mas não aquilo que vai determinar se esse vinho é melhor do que o que está ao lado, lembrem-se que nem todos os produtores participam nas mesmas provas. São uma garantia de um dado júri, num dado contexto e de acordo com os seus parâmetros que se pretendem os mais objectivos e uniforme possíveis.

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Quantidade e diversidade

Existem vários tipos de tamanho de garrafas e de diferentes estilos para acompanhar os diferentes momentos de refeição. Na vossa lista de compras podem considerar comprar um vinho para aperitivo (espumantes, vinho leve, rosés), outro para a refeição principal (branco e tinto) e outro para sobremesa (colheitas tardias e fortificados).

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A maior parte das garrafas que se encontram à venda são meias garrafas (0.35l), uma opção possível para a restauração caso não haja vinho a copo ou caso gostem de utilizar vinho nos vossos cozinhados, as garrafas de 0.75l, que servem cerca de 6 copos, e as magnum (1,5l)  que aparecem muitas vezes na altura das festividades. Se quiserem servir o mesmo vinho durante todo o jantar as magnum são uma opção a considerar em  jantares de grupo. Nestas garrafas o vinho envelhece de uma forma mais lenta e homogénea porque há menos ar em contacto com o vinho em termos proporcionais e normalmente não são mais caras que duas garrafas de 0,75l. Assim garantem que não há diferenças de sabor ao mudar de garrafa, pois como sabem o vinho é um “organismo vivo” e não há duas garrafas iguais. Por estas razões no espumante ou champagne, sempre que possível, optem por garrafas magnum.

 

Onde Comprar?

Quando se vive nas grandes cidades as opções de locais aumentam e há particularidades para cada um deles.

Boa parte do acesso à compra de vinho acontece nas grandes superfícies. As cadeias de hipermercados têm geralmente uma oferta diversificada e como compram em grandes quantidades acabam por oferecer uma boa relação qualidade/preço e com regularidade acontecem promoções. É importante no entanto perceber que se tratam de espaços onde não estão os vinhos mais elaborados dos produtores e dificilmente encontrarão vinhos de pequenos produtores. A dinâmica das grandes superfícies é de uma movimentação rápida e os cuidados com o armazenamento diferem de outros espaços. De uma forma geral os vinhos não devem estar sujeitos a oscilações de temperatura, luz forte nem a grandes movimentações. Alguns espaços de grande superfície têm o cuidado de refrigerar a zona da garrafeira e de reduzir a intensidade da luz mas tal não acontece na grande maioria e  dificilmente encontrarão alguém que vos possa aconselhar na tomada de decisão.

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Neste registo os meus espaços de eleição para compra em Lisboa são o SuperCor e o Club del Gourmet do Èl Corte Inglés e o Pão de Açúcar Gourmet no Amoreiras. Aparentemente oferecem condições indicadas para o armazenamento, têm diversidade de oferta nacional e internacional, onde já se incluem os “topos de gama”, com uma boa relação qualidade preço e os colaboradores destas áreas são profissionais que sabem aconselhar a compra e responder a boa parte das questões.

 

Garrafeiras

As garrafeiras são espaços mais acolhedores, com escolhas diferentes das grandes superfícies, regra geral com profissionais que conhecem a área e permitem estabelecer uma relação de confiança e proximidade. Olho para as garrafeiras como espaços com personalidade que diferem entre si. Claro que o objectivo da garrafeira é vender vinho mas os seus critérios de selecção do que está na prateleira não é o mesmo que o das grandes superfícies. Nas garrafeiras é possível encontrar algumas edições mais especiais e quando os vinhos não se encontram em stock, muitas vezes é possível encomendá-los. Nas garrafeiras é fácil “perderem-se” nalgum encantamento, são espaços de descobertas onde há palco para outros actores menos conhecidos e verdadeiras relíquias que não são necessariamente pagas a peso de ouro. Aqui os pequenos produtores (muitos deles pequenos apenas no nome) podem encontrar uma forma de chegar ao consumidor que procura vinhos com alguma identidade.  Algumas garrafeiras que promovem provas de vinho oferecem descontos nos produtos à prova no dia do evento.

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Actualmente há várias garrafeiras que permitem compras online, fazem promoções e entregas em casa. As compras online podem servir a quem não tem grandes opções na sua área de residência e deste modo garantem compras interessantes a que de outro modo não teriam acesso.

As minhas garrafeiras de eleição em Lisboa são a Garrafeira de Campo de Ourique, a Garrafeira Estado d’Alma e a Garrafeira Nacional  mas, isto não significa que devam desconsiderar os vários espaços de qualidade e diversidade existentes.

 

Directamente no produtor

Esta é uma experiência interessante porque pode vir acompanhada de uma visita às vinhas, adegas, de prova e pode acontecer conversarem com o enólogo que é a melhor pessoa para vos explicar o que decidiu fazer. Alguns produtores fazem descontos  e com eles também podem encontrar algumas edições menos comuns, por vezes há edições que apenas chegam ao canal HORECA (Hotéis, Restaurantes e Cafés). Comprar ao produtor é mais do que comprar vinho. No local é possível perceber a sua estória, sentir os espaços, o clima e a envolvência que passa para o que está nas garrafas que levam para casa. Os sabores do vinho são isso também. Recentemente a plataforma Adegga disponibilizou um novo serviço, o Adegga Selected que permite comprar ao produtor .O primeiro produtor a associar-se a este serviço foi Paulo Laureano Vinus e mais se seguirão.

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O vinho é uma bebida de prazer e é assim que vejo o seu processo de compra. Por vezes arriscamos e corre bem, outras vezes nem por isso mas se nunca sairmos do que conhecemos dificilmente ficamos a saber se gostamos de mais do que pensávamos. E não há nada como abrir outra garrafa. Portugal tem mais regiões produtoras que Douro e Alentejo. Ignorem os preconceitos e atrevam-se a descobri-las de modo prazeroso, porque como alguém já o disse:

 

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