Este podia ser um título de Setembro mas, a verdade é que para bem se colher nessa altura o trabalho de casa é feito agora. Por isso fui ter com o o Pedro Marques, enólogo e produtor do Vale da Capucha para aprender os princípios da poda.
A Quinta de São José, fica no Carvalhal, D.O.C. Torres Vedras e foi pela configuração do terroir que a conversa começou. As vinhas estão situadas a cerca de 8km em linha recta com o Atlântico, plantadas num solo de calcário muito claro onde se chegam a encontrar fósseis. Pelas condições naturais, os brancos adquirem a melhor expressão e foi essa a aposta quando em 2006 se decidiu que dos 13 hectares, 10 seriam brancos (Viognier, Arinto, Fernão Pires, Viosinho, Gouveio e Antão Vaz) e 3 tintos (Touriga Nacional, Tinta Roriz e Syrah).
A produção do Vale da Capucha é orientada pelo método biológico, o que pressupõe a não utilização de produtos derivados de petróleo e que quanto mais trabalho de intervenção se fizer na vinha mais autêntico e maior qualidade terá o produto final, evitando ou diminuindo a necessidade de correcções posteriores na adega.
O trabalho da poda inicia-se quando a videira já perdeu as folhas e entra em dormência, o que geralmente acontece entre Novembro e Março. O perigo de começar a podar cedo demais é perder os cachos futuros, pois se a planta ainda estiver activa pode ter novos rebentamentos.
A primeira coisa a fazer é ter uma noção geral da vinha, perceber que plantas se apresentam com mais e menos vigor para saber como intervir. Uma preocupação transversal ao trabalho da poda é garantir que a videira se mantém do mesmo tamanho ano após ano, o que vai determinar a escolha dos cortes a fazer. Como arbusto que é, a tendência da videira é crescer indefinidamente, por isso precisa ser contrariada no sentido de a baixar o mais possível.
O meu “laboratório” foram as videiras de Viognier, onde utilizámos a técnica de Poda Royat ou Poda Talão unilateral, que também pode ser bilateral.
O objectivo foi deixar em cada videira seis unidades de frutificação (talão) com dois olhos. Dos olhos vão emergir os lançamentos e nestes as folhas e os cachos. Os cortes devem ser sempre rasos, isto é, cortes que eliminam tudo o que é desnecessário e venha a tirar energia a planta. Nesta casta é comum surgirem lançamentos “ladrão”, lançamentos que por algum motivo rebentaram fora da orientação estabelecida e que por este motivo também são eliminados, uma vez que todo este trabalho serve para reconduzir o crescimento da videira.
Neste exercício não só preparámos a vindima de Setembro de 2015 como a de 2016, já que fizemos uma poda com espera, ou seja, além do talão com dois olhos que irá dar a uva deste ano deixámos um segundo talão, o de espera com um olho, que irá ser a unidade de frutificação futura. Assim se vai trabalhando a planta de forma a garantir que os cachos nascem bem posicionados (com a exposição solar adequada e distância certa entre si para evitar microclimas geradores de fungos e outras doenças) e que a videira continuará saudável e a produzir durante vários anos.
Uma longa manhã de tutorial que com os seus frutos de conhecimento permitiu perceber como o vinho se faz ainda antes de haver uva!
Notas de Prova